Ao contrário de doenças causadas por fungos, bactérias e nematóides, não há maneira economicamente viável de eliminar os vírus de uma planta infetada. Assim, no geral, as medidas de controle de viroses são essencialmente preventivas, impedindo ou dificultando a chegada dos vírus a uma dada cultura e sua disseminação ou tornar a planta resistente ao vírus.
OPÇÃO 1 - Evitar a todo custo que o vírus chegue à cultura.
Quarentenagem – geralmente é um serviço prestado por órgãos oficiais e que tem por finalidade principal evitar a introdução no país de pragas em geral, entre as quais os vírus, que ainda não ocorrem no território nacional. Um serviço eficiente de quarentena exige laboratórios bem equipados, pessoal qualificado, capaz de detectar vírus em diferentes situações.
É possível pensar também nesse tipo de serviço para evitar ou retardar a entrada de um vírus em uma região ou estado do país onde ele ainda não foi detectado. Nesse caso, todavia o procedimento pode ter efeito negligível quando o vírus possui vetor eficiente, capaz de disseminá-lo com rapidez para áreas distantes.
Uso de sementes livres de vírus – Os vírus que são transmitidos por sementes podem estar contidos internamente nas sementes ou aderidos à casca, como contaminantes. As sementes portadoras de vírus constituem a fonte de inoculo primária na cultura. A introdução precoce do vírus na cultura permite a sua disseminação para plantas nos estádios iniciais de desenvolvimento, o que acarreta danos maiores, pois quanto mais jovem a planta é infectada, maiores são os prejuízos. Portanto, para as culturas propagadas por sementes verdadeiras e que possuem vírus que são transmitidos através destas, é prática indispensável a utilização de sementes livres de vírus ou até com certificado de sanidade. Os agricultores que adquirem suas mudas de viveiristas devem certificar-se de que foram produzidas com sementes de alta sanidade, sob condições adequadas e que, portanto encontram-se livres de vírus por ocasião do transplante em campo.
Uso de material vegetativo livre de vírus – Conforme apontado anteriormente, a propagação vegetativa de partes de plantas infectadas no geral resulta em clones também doentes. Portanto, as plantas propagadas por meio de tubérculos, bulbos, estacas, gemas, etc., devem provir de plantas sabidamente sadias. As mudas obtidas de plantas sadias devem constituir a matriz para propagações futuras. Assim sendo, devem ser cultivadas em local protegido, isoladas das áreas de produção de mudas comerciais, para evitar eventual contaminação. Nos casos de uma variedade de alto valor comercial estar 100% infectada, há necessidade de se promover a limpeza clonal para posterior produção de mudas. A limpeza clonal pode ser feita por meio da termoterapia, quimioterapia, cultura de meristemas, ou a combinação desses métodos.
Eliminar plantas hospedeiras do vírus – Em teoria é possível afirmar que a eliminação de todas as fontes de vírus de uma área, antes do início da nova plantação, tenha um efeito benéfico significativo no controle da doença. Na prática, todavia, essa tarefa é difícil, senão impossível de ser executada, especialmente em países de clima tropical e subtropical com uma ampla gama de espécies vegetais presentes durante quase o ano inteiro. A eficácia dessa medida está diretamente ligada a gama de hospedeiras do vírus, podendo ter maior chance de êxito quando o vírus tem círculo de hospedeiros restrito. É aconselhável, portanto, antes de iniciar um novo plantio, através da semeadura direta ou do transplante de mudas, eliminar culturas velhas e/ou abandonadas e restos de cultura que possam hospedar vírus que afetam a nova cultura. Nas proximidades da área de plantio, sempre que possível, deve-se eliminar plantas daninhas que podem alojar vírus e/ou vetores do vírus. O cultivo escalonado deve ser evitado, pois os plantios mais velhos sempre servirão de fonte de inoculo para as plantas mais novas.
Erradicação sistemática de plantas doentes ("roguing") – Essa prática é geralmente recomendada para os vírus que possuem um círculo de hospedeiros restrito, como por exemplo, o vírus do mosaico do mamoeiro, que praticamente só infecta essa frutífera. Para que a erradicação tenha efeito benéfico ela deve ser iniciada assim que as plantas emergirem e prosseguir até o final da vida útil econômica da cultura. Deve ser feita através de inspeções periódicas (10 a 15 dias) em toda a área do plantio. Caso os vizinhos também cultivem a mesma espécie, todos devem adotar o mesmo procedimento, para evitar que os que não praticam o "roguing" funcionem como fonte de inoculo para os mais cuidadosos. No Estado de Espírito Santo, p.ex., a legislação exige o "roguing" para o controle do mosaico do mamoeiro o que tem permitido a convivência dos produtores com a virose. Culturas velhas e abandonadas nas proximidades devem ser sempre eliminadas para maximizar a eficiência da erradicação.
Modificações no plantio – O estabelecimento de um período de repouso de dois a três meses, totalmente livre da espécie cultivada pode redundar em uma redução significativa das fontes de inóculo do vírus e conseqüentemente favorecer a cultura seguinte. Também poderá ter efeito na população do vetor, caso este se colonize nessas plantas. Essa medida é mais eficaz nos casos de vírus com círculo de hospedeiros restrito.
Alterações na época de plantio também podem resultar em redução na incidência de vírus, especialmente no estádio de maior jovialidade das plantas, onde as infecções geralmente resultam em maiores danos. Mudanças na data de plantio são feitas com base na flutuação populacional dos vetores, procurando evitar as ocasiões de picos. Para isso há necessidade do estabelecimento de um programa contínuo de monitoramento dos vetores na região da cultura.
Aumento na densidade populacional de plantas na plantação pode proporcionar redução nos danos causados por doenças de vírus. O aumento do número de plantas na área deve ser bem analisado para evitar redução na produção devido a competição entre plantas.
O plantio em áreas protegidas por barreiras físicas naturais (espécies vegetais de porte alto) ou artificiais (telas) tem sido objeto de investigações e algumas aplicações práticas, porém os resultados nem sempre são satisfatórios. Em vários casos essas barreiras, que tem como objetivo principal evitar ou retardar a entrada de vetores portadores do vírus dentro da plantação têm efeito muito reduzido ou nulo.
No caso dos telados, adequadamente construídos com telas de malha fina (anti-afídeos), os resultados no geral são positivos na proteção contra a entrada de vetores virulíferos.
A aplicação de qualquer uma dessas alternativas para minimizar os danos causados for fitoviroses deve levar em consideração aspectos econômicos da cultura.
OPÇÃO 2 - Controlar ou evitar a chegada dos vetores dentro da cultura.
Os vírus, conforme já foi discutido, possuem vetores dentro das classes dos insetos (pulgões, cigarrinhas, moscas brancas, tripes e cochonilhas), ácaros, fungos e nematóides. Os insetos e os ácaros são vetores aéreos, enquanto fungos e nematóides vivem no solo, portanto as estratégias de controle são diferentes.
O controle dos vetores aéreos de vírus de plantas pode ser feito através de procedimentos culturais, biológicos e químicos, sendo este último o mais utilizado pelos agricultores. A técnica cultural mais comum é a utilização de cobertura viva ou morta do solo entre as linhas de plantio, com o objetivo de promover a repelência dos vetores e conseqüentemente retardar a entrada e a disseminação do vírus na plantação. Um exemplo prático, genuinamente brasileiro, é a cobertura com casca de arroz que reduz a incidência de vírus transmitidos por afídeos. Embora seja de difícil aplicação em áreas extensas, por causa da baixa disponibilidade de casca de arroz, é uma alternativa interessante para pequenos plantios. Algumas espécies vegetais, quando plantadas nas entrelinhas da cultura podem reduzir ou retardar a incidência de viroses. É o caso do amendoim forrageiro (Arachis pintoi) que, quando plantado nas entrelinhas da cultura do tomateiro, reduziu população da mosca branca e conseqüentemente a incidência de vírus por ela transmitido. O uso de plásticos coloridos ou prateados também tem se mostrado experimentalmente eficiente em alguns casos, porém têm o inconveniente do custo elevado e os danos ecológicos, por serem de difícil descarte.
O controle biológico através de inimigos naturais (parasitas e predadores) dos vetores não tem sido uma prática comum para o controle de doenças de vírus de plantas, principalmente por falta de estudos nesse sentido.
O controle químico dos vetores é o mais utilizado, pois há vários inseticidas, óleos minerais e acaricidas disponíveis no mercado, porém nem sempre traz o resultado desejado. Eles são usados principalmente porque os agricultores já estão familiarizados com a sua aplicação para o controle de pragas e, por isso acreditam que também controlam viroses. Além disso, o custo de muitos defensivos é relativamente baixo em relação ao custo do produto a ser comercializado. A baixa eficiência do controle químico se deve principalmente ao tipo de relação entre o vírus e o vetor. Nos casos em que a relação é apenas estiletar e o vetor (pulgão) não coloniza a espécie cultivada, a eficiência do controle químico do vetor para minimizar os danos da virose é praticamente nula. Isto porque a maioria dos inseticidas não é rápida o suficiente para matar os pulgões antes que estes efetuem a picada de prova e inoculem o vírus na planta. Em alguns casos pode até acelerar a disseminação do vírus, pois a presença do inseticida pode causar excitação nos pulgões, que poderão provar mais plantas do que o fariam na ausência do produto. Entretanto, quando a espécie de pulgão coloniza a planta, esta deve ser controlada como praga. Portanto, ao aplicar o controle químico do vetor com o intuito de controlar uma virose o agricultor na maioria das vezes estará aumentando o custo da produção sem ter necessariamente o retorno desejado na minimização dos danos. Além disso, o uso indiscriminado de defensivo propiciará o desenvolvimento de insetos resistentes aos princípios ativos utilizados, danos na natureza, e na cadeia alimentar do homem e de outros animais. Certos óleos minerais têm mostrado experimentalmente alguma eficiência no controle de doenças de vírus de transmissão estiletar. Em campo, entretanto, os resultados não têm sido tão satisfatórios e por isso o uso comercial desse tipo de produto não é comum.
Quando a relação vírus-vetor é do tipo circulativa (pulgões, cigarrinhas, mosca branca e tripes), portanto requer maior tempo de alimentação do vetor para a aquisição e a transmissão do vírus, o controle químico poderá minimizar a disseminação do vírus na plantação. Ao se alimentar por mais tempo em uma planta protegida com inseticida sistêmico o vetor terá maior probabilidade de morrer antes de mover-se para outra planta e efetuar nova transmissão. Nesses casos devem ser utilizados os produtos registrados para a cultura, nas dosagens recomendadas pelo fabricante e adotando os critérios de segurança pessoal do aplicador e de proteção ambiental.
Para os vírus que são transmitidos por nematóides e fungos, que são habitantes do solo, a primeira medida recomendada é de exclusão, ou seja, evitar o plantio em áreas com histórico da presença do vetor. Na impossibilidade de adoção dessa medida, o controle geralmente é feito por meio de nematicidas e fungicidas. Para volumes pequenos de solo, para plantios em vasos, por exemplo, pode-se recomendar a esterilização química ou pelo calor.
OPÇÃO 3 - Tornar as plantas resistentes ao vírus e/ou vetor.
A resistência genética é considerada a melhor e mais eficiente forma de controle de viroses em geral e deve ser utilizada sempre que disponível. Diversas variedades de várias espécies cultivadas, possuidoras de genes de resistência para um ou mais vírus, foram desenvolvidas nos últimos anos por instituições de pesquisa e empresas de sementes no país e do exterior e estão disponíveis no mercado. Na verdade trata-se de um trabalho permanente, pois a resistência incorporada em uma nova variedade nem sempre é duradoura. Os vírus, no seu processo evolutivo, podem desenvolver estratégias que permitem o aparecimento de mutantes ou recombinantes capazes de quebrarem a resistência recentemente incorporada na variedade.
Variedades tolerantes, isto é, que mesmo infectadas com o vírus não sofrem danos significativos na produção, também são outra opção desejável para o controle de viroses, apesar das restrições apontadas por alguns investigadores.
Além da resistência ao vírus, pode-se pensar também no desenvolvimento de cultivares resistentes aos vetores, especialmente para aqueles que colonizam as plantas nas quais inoculam o vírus. Os principais tipos de resistência aos vetores que podem ser de utilidade no controle de fitoviroses são a não preferência e a antibiose. Entretanto, raros são os exemplos de trabalhos desenvolvidos nessa linha de abordagem do problema de viroses em plantas.
Premunização – A premunização ou "vacinação" é a proteção das plantas com uma estirpe fraca do vírus, que não afeta o desenvolvimento e a produção, tanto quantitativa como qualitativamente. Para isso, as plantas devem ser inoculadas com uma estirpe fraca do vírus, ainda no estádio de mudas. Após alguns dias estas estarão protegidas contra a infecção com as formas severas do vírus que ocorrem em campo. O exemplo clássico de aplicação eficiente dessa tecnologia é o do controle da tristeza dos citros, que vem sendo utilizado no Brasil a mais de 30 anos. Por muitos anos acreditou-se que essa alternativa de controle só era viável para culturas perenes ou semi-perenes e aquelas propagadas vegetativamente, pois para culturas anuais, propagadas por sementes, haveria a necessidade de se inocular um grande número de plantas a cada ciclo da cultura. Atualmente, com os avanços na produção de mudas de diversas espécies, essa tecnologia passou a ser viável também para culturas anuais, como é o caso do controle dos mosaicos comum e amarelo em abobrinha-de-moita. Trata-se de uma alternativa de controle ecologicamente correta, pois não traz danos ao aplicador, ao consumidor e ao meio ambiente. Além disso, pode ser incorporada em qualquer manejo integrado de pragas e doenças da cultura.
Plantas transgênica – Nos últimos anos a agricultura mundial tem experimentado avanços tecnológicos significativos na área de transformação genética de plantas. Atualmente é possível introduzir seqüência de nucleotídeos de qualquer organismo dentro do genoma de uma planta e obter a sua expressão. Em teoria é possível pensar que genes de imunidade ou de resistência a vírus podem ser transferidos entre as diferentes espécies vegetais, mesmo entre aquelas sem qualquer parentesco. No caso dos vírus de plantas diversas estratégias estão sendo investigadas com o propósito de se obter plantas trangênicas resistentes a vírus. A maioria delas utiliza seqüências do genoma do próprio vírus. A seqüência (gene) mais comumente utilizada é a da proteína da capa protéica, que pode ou não ser produzida nas células da planta transformada para conferir proteção contra a infecção em campo. Outros genes de vírus que têm sido avaliados são os que codificam proteínas de movimento na célula, da replicase, envolvido na replicação do vírus, etc. Diversas empresas e instituições estrangeiras, bem como brasileiras, já desenvolveram cultivares transgênicos de diferentes espécies vegetais para resistência a vírus, porém ainda não estão disponíveis no mercado brasileiro. Em alguns países, onde a legislação permite o cultivo de transgênicos, o seu uso já tem mostrado bons resultados, como por exemplo, os cultivares de mamoeiro transgênicos (variedade SunUp e híbrido Rainbow) plantados no Havaí desde 1998 e que são resistentes ao mosaico. As plantas transgênicas resistentes a vírus estão sujeitas ao mesmo problema de quebra da resistência apontado anteriormente para as plantas resistentes obtidas através do melhoramento genético clássico.
A utilização comercial de plantas transgênicas em geral tem sido motivo de intensa discussão nos últimos anos. Para as plantas transgêncicas resistentes a vírus, essencialmente três aspectos de riscos tem sido considerados: riscos para o homem e outros animais, riscos para o ambiente e riscos comerciais. No primeiro caso questionam-se quais os riscos que o gene do vírus presente na planta ou nos seus derivados, poderá ter para a saúde do homem. Por exemplo, qual seria o risco potencial da freqüente ingestão da proteína da capa protéica de um vírus que está sendo constantemente produzida em uma planta transgênica? Deve-se lembrar que o homem, há milhares de anos, diariamente consome algum produto proveniente de uma planta que estava infectada com um vírus em campo (ex: alface com o vírus do mosaico, suco de laranja com o vírus da tristeza, frutos de mamoeiro com mosaico, etc) e, por conseguinte está ingerindo partículas inteiras desses vírus (ácido nucléico mais capa protéica). Se até hoje não há notícias de vírus de plantas que sejam capazes de infectar o homem ou causar problemas a sua saúde, é pouco provável que isso venha ocorrer com o consumo de produtos de plantas transgênicas expressando genes virais.
Os riscos comerciais estão relacionados com as características agronômicas da planta transgênica, a durabilidade da resistência e a possibilidade da dispersão do gene para outras espécies vegetais. É bom lembrar que essas considerações não estão limitadas às plantas transgênicas resistentes a vírus, mas se aplicam a qualquer planta transgênica. A área que tem atraído mais interesse no caso das plantas transgênicas resistentes a vírus é sobre o risco da interação entre a seqüência do genoma vírus que foi inserido na planta com o genoma da própria planta ou com o genoma de outro vírus que infecta a mesma espécie vegetal. Avaliações sobre esses riscos, que podem ser de três natureza (heteroencapsidação, recombinação e sinergismo), estão em andamento em diversos laboratórios.